Com a crescente necessidade por sustentabilidade no setor, novos modelos de pagamento foram desenvolvidos para alinhar incentivos financeiros à entrega de um cuidado mais eficiente e centrado no paciente.
Em vez de remunerar exclusivamente pelo volume e pela complexidade de serviços prestados, essas abordagens buscam recompensar adequados desfechos clínicos e o impacto real na saúde dos indivíduos.
Dentro desse contexto, surge o conceito de Value-Based Healthcare (VBHC), ou saúde baseada em valor, que propõe uma mudança na lógica de remuneração para privilegiar os resultados clínicos que importam aos pacientes a um custo adequado. Mas como esses modelos funcionam na prática? Quais são as principais diferenças entre eles?
Neste artigo, exploramos a classificação dos modelos de pagamento baseados em valor e como eles se conectam ao VBHC para transformar a assistência à saúde.
A transição do pagamento por volume para o pagamento por valor
Historicamente, a remuneração em saúde foi dominada pelo modelo de Fee for Service (FFS), pelo qual cada serviço é pago separadamente, incentivando a quantidade e a complexidade dos procedimentos sem necessariamente considerar a efetividade do cuidado.
Esse modelo, embora ainda amplamente utilizado, tem sido progressivamente substituído ou combinado com novas abordagens que priorizam a qualidade dos resultados.
O VBHC surge justamente para alinhar incentivos financeiros à entrega de um atendimento mais eficiente e focado na melhoria da saúde dos pacientes. Dentro dessa proposta, diferentes modelos de remuneração foram desenvolvidos para refletir esse novo paradigma.
Principais modelos de remuneração baseados em valor
Pagamento por desempenho (pay for performance – P4P)
O modelo pay for performance (P4P) combina a lógica do Fee for Service com incentivos atrelados à qualidade da assistência prestada.
Em outras palavras, os prestadores continuam recebendo por serviço, mas podem ganhar bonificações ao atingirem metas de qualidade, como redução de reinternamentos, controle glicêmico de pacientes diabéticos ou melhora da satisfação do paciente.
Esse modelo tem sido utilizado como um meio-termo para a transição entre o pagamento por volume e abordagens mais avançadas baseadas em valor.
Pagamentos por episódio de cuidado (bundled payments)
No modelo de bundled payments, os prestadores de serviços recebem um pagamento fixo para cobrir todos os custos de um episódio específico de tratamento, como uma cirurgia de prótese de quadril ou o manejo de uma doença crônica por um período determinado.
Essa abordagem traz previsibilidade de receita e incentiva a coordenação entre diferentes profissionais de saúde e a otimização dos recursos, pois o prestador precisa garantir que o tratamento seja eficaz (entregue os desfechos mínimos previstos) no orçamento previsto.
Capitation e modelos de gestão populacional
O modelo capitation estabelece um pagamento fixo por paciente atendido, independentemente da quantidade de serviços prestados. Essa abordagem pode ser dividida em duas categorias:
- Capitation parcial: cobre apenas determinados serviços, como atendimento primário.
- Capitation global: cobre todos os serviços necessários dentro de um sistema de saúde.
Esse modelo pode estimular a prevenção, pois os prestadores têm interesse em manter os pacientes saudáveis para evitar complicações futuras, porém a boa prática é considerar o ajuste de risco populacional e métricas de desfechos para que não ocorra sub-tratamento.
É amplamente utilizado em sistemas universais de saúde, como o NHS, no Reino Unido, e em iniciativas de cuidado coordenado, como as Accountable Care Organizations (ACOs) nos Estados Unidos, que promovem uma gestão integrada da saúde dos pacientes.
A relação entre VBHC e os modelos de pagamento
Os modelos de pagamento baseados em valor estão diretamente ligados ao Value-Based Healthcare por promoverem uma mudança de foco: em vez de remunerar pelo volume de serviços, incentivam melhores desfechos clínicos e a eficiência na utilização dos recursos.
Os modelos de P4P, Bundle e Capitation possuem níveis diferentes de transferência de risco e da responsabilização ao cuidado ao prestador. Quanto maior forem estas características, maior é o atingimento de uma saúde baseada em valor.
É importante salientar que a mudança nos modelos de remuneração é uma ação viabilizadora para o VBHC, mas não é a única. Outras ações simultâneas deverão ocorrer, como por exemplo, a integração de práticas assistenciais, forte investimento em tecnologia, interoperabilidade de sistemas e buscar sempre medir os desfechos que importam ao paciente e o custo de sua produção.
Compartilhamento de riscos nos modelos de pagamento baseados em valor
O compartilhamento de riscos é um componente estratégico dentro dos modelos de remuneração baseados em valor, pois equilibra incentivos financeiros e promove a responsabilidade entre os prestadores de serviços.
Ao integrar mecanismos de Shared Savings e Shared Risk aos modelos de P4P, Bundled Payments e Capitation, cria-se um ambiente mais sustentável, no qual a eficiência e a qualidade são incentivadas sem comprometer a viabilidade econômica dos provedores de saúde.
Os modelos de compartilhamento de risco podem ser aplicados de diferentes formas, dependendo do grau de responsabilidade assumida pelos prestadores de serviços:
- Shared Savings (Economias Compartilhadas)
- Os prestadores são incentivados a reduzir custos mantendo ou melhorando a qualidade da assistência.
- Se as despesas ficarem abaixo de um benchmark predefinido, os prestadores recebem uma parte das economias geradas.
- Shared Savings (Economias Compartilhadas)
- Os prestadores são incentivados a reduzir custos mantendo ou melhorando a qualidade da assistência.
- Se as despesas ficarem abaixo de um benchmark predefinido, os prestadores recebem uma parte das economias geradas.
Conclusão
A transição para modelos de pagamento baseados em valor é um caminho sem volta para tornar a saúde mais eficiente, acessível e centrada no paciente. Embora ainda haja desafios na implementação, a adoção dessas abordagens é essencial para garantir um sistema de saúde mais sustentável e focado no que realmente importa: a qualidade de vida e o bem-estar da população.